Marie Aliaga

I grew up in the suburbs of Paris, France, together with sons and daughter of immigrants. My childhood has been the starting point of a life looking for ways of crossing borders: cultural, but also and foremost, social and historical borders.

Coming from a family that has been fuelling me with mathematics problems since a very young age, I was convinced that social projects financial and organizational management was the area where I could have a greater contribution. I graduated in administration and went on working for humanitarian NGOs, traveling to Sudan, Russia (Chechnya and Ingushetia), Chad, Haiti, among other countries. From this experience on, I started experiencing the weird feeling of being a stranger in my country.

After 4 years of working in NGOs, I started looking for other paths of action, which would make better sense to me. That’s how Brazil came into my life: I started with a Master degree in Food, Nutrition and health, then continued with a Doctorate degree and a Post-doctorate research in Public Health at the Federal University of Bahia, working in the field of social sciences in health.

One of the things I learnt this last decade is that I can deal with more than numbers: my thesis research strengthened and sealed my ‘epistemological transition’, i.e. when I let go of quantitative methods and embraced socio-anthropological approaches.

From the beginning of my thesis research, I tried to problematize the relationship between university and community and along with it the theme of participation. My research strategy was a participatory action research, in line with Paulo Freire’s works. As in my thesis research, my post-doctoral project methodology draws on interpretative anthropology when exploring meanings given by the community members, while adopting a participatory and engaged approach on the field. At the same time, I began to study a specialization degree on Epistemologies from the South, in which we address concepts and themes such as knowledge decolonization, sociology of absences, and ecology of knowledges.

During the last couple of years I have been participating in an interdisciplinary project on leptospirosis in communities of Salvador, Bahia, which gathered researchers from epidemiology, ecology, biology and social sciences, among other areas of knowledge. The combination of different epistemological approaches was a real challenge, as we did not want the research products to end up being a patchwork of different methods results. I believe we did manage to establish a real dialogue between the different areas of the project. Today this project has become a reference, and gave birth to an outreach project of high recognition within the communities.

These experiences are the reason why I am very enthusiastic for the ECLIPSE project, as I have witnessed how transforming can be projects that combine research and interventions from as interdisciplinary perspective, with a team that is rich in different epistemological and cultural backgrounds.

It is with great pleasure that I accepted to participate in the ECLIPSE project, contributing to the research from Brazil, within the social sciences in health perspective.

Cresci em bairros populares da periferia de Paris, França, junto de filhos e filhas de imigrantes. Essa infância foi o ponto de partida de uma vida marcada por buscas incessantes de caminhos que cruzam as fronteiras: fronteiras culturais, mas também, e sobretudo, fronteiras sociais e históricas.

Vinda de uma família que prezava as ciências exatas e me alimentava de problemas de matemáticas, eu era convencida que o lugar de maior contribuição que eu podia ocupar era na gestão financeira e organizacional de projetos sociais. Formei em administração e comecei em trabalhar em ONGs humanitárias, viajando pelo Sudão, Russia (Chechênia e Ingúchia), Chade, Haiti, e outros países. Foi a partir dessa vivência que comecei a exercitar o estranhamento, especialmente em relação a “minha” cultura, sentindo-me estrangeira no meu próprio país.

Depois de 4 anos de trabalho em ONGs, comecei a procurar outros caminhos de atuação, que fariam mais sentido para mim. Foi assim que o Brasil entrou na minha vida: comecei com um mestrado em Alimentos, Nutrição e Saúde. Seguiram o doutorado e o pós-doutorado em Saúde Pública, no campo das ciências sociais em saúde.

Uma aprendizagem dessa última década, é que eu “tenho jeito” sim para mais do que números. Foi com meu doutorado que se consolidou a minha “transição epistemológica”, pela qual desapeguei dos métodos quantitativos e me “apeguei” às abordagens sócio-antropológicas.

Já no início do meu projeto de tese, procurei problematizar a relação entre universidade e comunidade, e com ela o tema da participação. Meu estudo de tese se constitui como uma pesquisa-ação, em linha com os trabalhos de Paulo Freire. Como no meu projeto de doutorado, a metodologia do meu pós-doutorado se inspira da antropologia interpretativa na exploração de significados e assume uma abordagem participativa e engajada ao lado dos moradores das comunidades. Em paralelo ao meu pós-doutorado, comecei uma especialização sobre Epistemologias do Sul, na qual abordamos conceitos como a descolonização do saber, a sociologia das ausências, ou ainda a ecologia dos saberes.

Participei, nos últimos anos, de um projeto interdisciplinar reunindo pesquisadores das áreas da epidemiologia, ecologia, biologia e ciências sociais, entre outros, sobre zoonoses, em particular, sobre leptospirose em comunidades de Salvador. A combinação de diferentes abordagens epistemológicas foi desafiadora, já que não queríamos que os produtos se limitem a uma justaposição de resultados advindos de diferentes técnicas de pesquisa. E, acredito eu, conseguimos estabelecer um verdadeiro diálogo entre as diferentes partes do projeto. Hoje o projeto se tornou referência e se desdobrou em projeto de extensão reconhecido e de peso nas comunidades nas quais trabalhamos.

É com base nestas experiências que me entusiasmo pelo projeto ECLIPSE, pois já testemunhei do potencial transformador de projetos que aliam pesquisa e ações comunitárias desde uma perspectiva interdisciplinar, com uma equipe rica em experiências que partem de diversas perspectivas epistemológicas e culturais.

É com muito prazer que aceitei o convite para participar do projeto ECLIPSE, contribuindo para a pesquisa no Brasil, desde a perspectiva das ciências sociais em saúde.